Viajando entre a Gare do Oriente e Portimão...
Porque meti na cabeça que o comboio partia às 12.21 e não às 13.21 chego cedo, demasiado cedo!!! Impõe-se fazer alguma coisa que me impeça de me insultar e bater com a cabeça na parede ou pior. Resolvo disparar a máquina fotográfica contra tudo o que me aparece pela frente.

Para evitar o antro de consumismo que é o Vasco da Gama e porque uma vez mais levo um saco
ligeiramente pesado, fico-me pela Gare do Oriente. Rapidamente chego à conclusão que naquelas lojas por ali se paga o couro e o cabelo (para não dizer pior) por qualquer coisa – paguei €2.60 por um bloco A5 ranhoso e uma caneta imitação de BIC Cristal, mas tenho que me entreter com qualquer coisa e esta parece-me uma boa solução...
Está um cheiro insuportável a frangos no churrasco em toda a superfície da Gare do Oriente.
Não consigo tirar uma foto toda estilosa porque há um senhor armado em voyeur justo no sítio que quero fotografar. O senhor vai embora mas a oportunidade já passou.
Na Gare do Oriente está agora uma ventania desgraçada mas, nem isso afastou o cheiro a frangos no churrasco. Envio SMS’s para me distrair e na tentativa de animar
alguém.
Farta do vento e do cheiro a frangos instalo-me no meu lugar só para descobrir que o senhor que me impediu de tirar a foto estilosa viaja no banco atrás do meu, cheira a massa de vidros e mastiga alarvemente de boca aberta, ao mesmo tempo que mantém uma conversa ao telemóvel muitos decibéis acima do recomendado – a coisa promete... Espero que pelo menos não ressone em
alta voz ou
dolby surround...

O comboio parte. Só para ter este privilégio vale a pena o cheiro a frangos no churrasco, o vento, o senhor que cheira a massa de vidros. O rio é sem dúvida bonito e, visto daqui tem um encanto diferente.
Confirmo algo que há muito tempo suspeito – os comboios são um excelente sonífero. Depois das dificuldades em adormecer sentidas nas últimas semanas, antes da estação do Pinhal Novo já a vossa estimada Atlantys Maria se encontrava nos braços de Morpheu. Já fiz cerca de metade do caminho, a maior parte do qual a dormir, confesso. Sou acordada por uma voz que anuncia a próxima paragem – estação da Funcheira – ao melhor estilo dos locutores de rádio dos anos 50. Dedico-me agora a observar melhor os meus companheiros de viagem – são 24 ao todo, 13 dos quais notoriamente estrangeiros. O casal que viaja no lado oposto ao meu lugar já bebeu 6 latas de cerveja desde que deixámos Lisboa. O senhor que cheira a massa de vidros de vez em quando passeia-se a si e ao seu cheiro pelo corredor da carruagem. Felizmente os meus temores não se confirmam e ninguém ressona em alta voz!
Tunes. Mudança de comboio para o serviço inter-regional. Já não interessa ter bilhete de 1ª ou 2ª classe. As carruagens são igualmente feias e degradadas e, o cheiro que lhes adivinho fazem-me sentir saudades do senhor que cheirava a massa de vidros. Já deito comboio pelos olhos e ainda faltam cerca de 40 minutos pelo menos.

Mais do que os sorrisos, beijos e abraços que me esperam em Portimão, gostava de poder contar com a presença do sol. Deixei Lisboa com chuva e Portimão recebe-me cinzento e nublado. Mas, como diz Scarlet O’Hara em E Tudo O Vento Levou –
Amanhã é outro dia! Às vezes longe demais, acrescento eu...
Todas as imagens são daqui.