K.O. técnico (*)

Conhece aquele ringue como a palma das mãos. Lutador de valor reconhecido entre os seus pares, aprendeu a dar a volta por cima, sabendo sempre iludir os adversários. Mesmo daquela outra vez, quando se encontrava caído no tapete, ergueu-se antes de o árbitro assinalar o final da contagem e, uma vez mais venceu a luta – uma que ele próprio achou que estava perdida.

Habituado a ganhar, entrou no ringue sem tomar cuidados especiais, confiante de que seria apenas mais uma luta. Porém, após os instantes iniciais, percebeu que aquela iria ser diferente de todas as outras em que tinha participado, talvez mesmo a luta pelo título. As regras do jogo já não lhe permitiam voltar atrás em busca das usuais protecções mas, o adversário não o amedrontava, a luta era leal e, mesmo desprotegido avançou.

Agora, imóvel no meio do ringue, não sabe explicar como ou quando tudo mudou, mas sabe que está cansado. Cansado de lutar, cansado de simplesmente esperar que a luta termine. Parar está nas suas mãos, ele sabe-o. Sabe que tudo o que tem que fazer é atirar a toalha ao chão e, nesse momento, tudo parará. Não o faz. Por algum estranho motivo não o faz. Não pode, não consegue, ou talvez simplesmente não queira fazê-lo.

(*)ou... Raisparta a insónia!
Imagem daqui.